Alia Ghanem, acompanhada pelos filhos Ahmad e Hassan, irmãos de Osama bin Laden, deu uma entrevista ao jornal britânico The Guardian
Pela primeira vez em 17 anos, a mãe de Osama bin Laden deu uma entrevista negociada durante muito tempo pelo jornalista do The Guardian com o reino saudita e com a família bin Laden, em que falou sobre o passado do ex-líder da Al-Qaeda.
Ao lado dos filhos Ahmad e Hassan, irmãos mais novos de Osama bin Laden, Alia Ghanem, de 84 anos, recordou que o outrora rapaz tímido foi influenciado quando estudava economia na Universidade de Jeda, onde foi radicalizado.
“As pessoas na universidade o mudaram. Ele se tornou um homem diferente”, disse Ghanem na entrevista.
Uma dessas pessoas teria sido Abdullah Azzam, um palestino da Irmandade Muçulmana, que se tornou o seu guia espiritual e o levou a entrar para a jihad.
“Ele [Osama] foi um bom rapaz até conhecer algumas pessoas que lhe fizeram uma lavagem cerebral no início dos seus 20 anos. Podemos chamar-lhe um culto. Eles tinham dinheiro para a sua causa. Eu sempre lhe disse para Osama ficar longe deles, mas ele nunca iria admitir para mim o que estava fazendo, porque me amava muito”, disse.
Nos anos de 1980, Osama bin Laden partiu para o Afeganistão para combater a invasão soviética. Foi precisamente no país que a família bin Laden viu, pela última vez, o antigo líder da Al-Qaeda.
Em 1999, Osama recebeu, por duas vezes, a visita da família numa base em Kandahar. “Era um lugar perto do aeroporto que eles capturaram aos russos”, contou Ghanem. “Ele estava muito contente por nos receber. Matou um animal e fizemos uma festa, ele convidou toda mundo”.
Como conta Martin Chulov, jornalista do diário britânico, a entrevista com a família bin Laden, que decorreu em junho, foi um processo complicado, em que para além das reservas da família em a conceder, foi preciso negociar com as autoridades sauditas.
Os bin Laden foram e continuam a ser uma das famílias mais influentes da Arábia Saudita, e os seus movimentos são muito controlados pelas autoridades. Além disso, Riade tenta se afastar o máximo possível do fato dos ataques de 11 de Setembro terem sido levados a cabo por 15 sauditas, numa altura em que existem processos nos tribunais contra o reino.
Questionada sobre se alguma vez suspeitou que Osama pudesse se converter num jihadista, Ghanem responde negativamente.
“Nunca me passou pela minha cabeça. Estávamos extremamente preocupados. Não queríamos que isto acontecesse. Por que é que ele deitou tudo a perder assim?”, questiona a mãe, que se comoveu, sobretudo, ao falar dos primeiros anos de vida do seu filho mais velho.
Quando saiu da sala em que decorria a entrevista, conta o jornalista do The Guardian, os seus filhos falaram um pouco mais abertamente sobre os atos do irmão mais velho, e lamentaram que a mãe não consiga ser imparcial a analisar o que aconteceu.
“Passaram 17 anos [desde o 11 de Setembro] e ela continua em negação em relação ao Osama”, notou Ahmad. “Ela o ama tanto e se recusa a culpá-lo. Ao invés disso, ela culpa os que estavam à sua volta. Ela só conhece o lado do bom rapaz, o lado que todos vimos. Ela nunca conheceu o lado jihadista”.
Apesar disso, o irmão Hassan declarou que o irmão mais velho lhe ensinou muito. Contudo, confessou que não consegue sentir orgulho do homem em que Osama se tornou. “Ele me ensinou muito. Não acho que consiga estar muito orgulhoso dele enquanto homem”, desabafou.
Fonte: NM