A cada hora, quatro meninas com menos de 13 anos são vítimas de violência sexual no Brasil. O maior número de casos envolve vítimas entre 10 e 14 anos de idade, sendo 13 anos a idade mais frequente. Entre os meninos, a faixa etária que há mais concentração de casos é entre 3 a 9 anos. Os dados são do Anuário de Violência do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no ano passado, e revelam um cenário assustador, de um tema que precisa ser debatido no núcleo familiar: 67% dos casos acontecem dentro das residências e 86% são praticados por conhecidos das vítimas.
Nesta quarta-feira (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a psicóloga do Sistema Hapvida, Michelle Costa, faz o alerta para que pais desenvolvam uma relação de confiança com os filhos para tratar sobre violência sexual.
Com o número alarmante de casos, a especialista orienta que as famílias não esperem muito tempo para iniciar os diálogos sobre corpo, limites, privacidade, e quem pode ou não tocá-los. “Assim que eles perceberem o mínimo de entendimento da criança em se proteger. Existem vídeos e quadrinhos explicativos, com linguagem apropriada”, ressalta.
Além dos materiais de apoio para ajudar na compreensão da criança, a conversa deve ser clara, com palavras que ela entenda. Ela deve conhecer as partes do corpo e ser conduzida sobre quem pode ou não tocá-las. “Por exemplo: ‘só a mamãe e você podem tocar no seu bumbum’”, detalha Michelle.
Ainda conforme o estudo da Unicef, a maioria dos casos de violência sexual contra meninas e meninos ocorre na residência da vítima. Além dos abusos sexuais cometidos por familiares ou pessoas de confiança da família, o acesso à internet e a facilidade de interação com pessoas do mundo inteiro têm sido uma ferramenta eficiente para abusadores chegarem às suas vítimas. “O abuso não acontece apenas com o toque; pode haver exposição das partes íntimas, pedido de fotos para consumir pornografia infantil”, revela.
Para proteger as crianças também no terreno virtual, dispositivos de controle do conteúdo são utilizados, além do monitoramento feito pelos pais. Ainda assim, o diálogo sincero com os filhos é essencial para evitar que eles caiam em armadilhas on-line. “Esses temas devem ser abordados em casa e discutidos naturalmente, procurando desmistificar os ‘tabus’”, detalha.
Sem pressão – Para que a relação seja de confiança e os diálogos eficientes, é necessário que os pais invistam tempo e busquem ‘construir’ o entendimento da criança nesse sentido, o que não é conquistado em apenas um bate-papo. Conforme a psicóloga, essa discussão deve fazer parte do cotidiano familiar, com conversas tranquilas e sinceras.
Adolescência – A adolescência, fase de muita mudança e adaptações, é também o momento em que as meninas são as mais vulneráveis à violência sexual. Conforme a pesquisa, elas são maioria, principalmente de 10 a 14 anos, sendo 13 anos a idade mais frequente do abuso. O papel dos pais é também orientar os filhos nessa fase e deixar o caminho aberto para a conversa, sem perspectivas de punições e censuras. “Os pais devem se mostrar disponíveis ao diálogo, presentes sempre que os adolescentes precisarem de apoio”, conta a especialista.
Acolhimento – Quando a vítima procurar o pai, mãe ou responsável para relatar o abuso, precisa se sentir acolhida, entendida e levada a sério. É comum o sentimento de culpa, que deve ser revertido com ajuda da família, que precisa buscar apoio médico e psicológico. As autoridades também devem ser acionadas, já que abuso, violência e exploração sexual de crianças e adolescentes são crimes e os acusados devem ser penalizados, conforme prevêem as leis de proteção existentes.
Dados – O Anuário de Violência do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que a maioria das vítimas de violência sexual são crianças na faixa de 10 a 13 anos (28,9%), seguidos de crianças de 5 a 9 anos (20,5%), adolescentes de 14 a 17 anos (15%) e crianças de 0 a 4 anos (11,3%). Para mais informações, https://forumseguranca.org.br.
PB Agora