ESPECIAL – O presidente Jair Bolsonaro e os filhos – Carlos (vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro), Flávio (deputado estadual pelo Rio de Janeiro) e Eduardo (senador por São Paulo) – planejam deixar o PSL, partido pelo qual foram eleitos em 2018, para ingressar em um partido que está de volta ao cenário político brasileiro depois de 54 anos de sua extinção: a UDN (União Democrática Nacional). A UDN foi um partido político surgido no Brasil no ano de 1945, depois da queda do ditador Getúlio Vargas, ditador que governou o Brasil por 15 anos seguidos, entre 1930 e 1945, na denominada Era Vargas.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a UDN foi fundada no dia 7 de abril de 1945 como uma “associação de partidos estaduais e correntes de opinião” contra a ditadura do Estado Novo, comandada pelo próprio Getúlio Vargas. O partido teve como principal característica a oposição Vargas e ao getulismo. “Embora tenha surgido como uma frente, a UDN organizou-se em partido político nacional, participando de todas as eleições, majoritárias e proporcionais, até 1965”, afirma texto publicado no site da FGV.
A UDN teve como maior adversário o PSD (Partido Social Democrático), que tinha maioria absoluta no Congresso Nacional e se opunha ao presidente que sucedeu Getúlio, o norte-riograndense João Fernandes Campos Café Filho.
Os dois partidos reuniam o que hoje seriam a direita e a esquerda (os chamados progressistas). A UDN abrigava os aliados do governo, adversários de Vargas (burguesia e classe média). O PSD reunia a oposição ao governo que sucedeu Vargas, as lideranças progressistas. A queda de braço entre UDN e PSD se consolidou no plano nacional e se espalhou pelos Estados, mesmo existindo outros partidos, a exemplo do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), PSB (Partido Socialista Brasileiro), PCB (Partido Comunista Brasileiro), PL (Partido Liberal), PSC (Partido Social Progressista), PR (Partido Republicano); PDC (Partido Democrata Cristão) entre outros.
O PDC levou Jânio Quadros ao Palácio do Planalto em 1960. Também havia o PRP (Partido da Representação Popular), além do PCB (Partido Comunista Brasileiro), legalizado em 1945 sob o comando de Luís Carlos Prestes, que chegou a ser eleito senador, inclusive disputou pela Paraíba. Mas em maio de 1947, o PCB, extinto permaneceu na clandestinidade .
Na Câmara dos Deputados, segundo a FGV, a UDN manteve o segundo lugar até 1962, quando perdeu para o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). “Elegeu governadores, especialmente no Nordeste, e integrou vários ministérios no governo Vargas”, frisa o texto. Mas a UDN perdeu três eleições presidenciais consecutivas (1945, 1950 e 1955) e apoiou a candidatura vitoriosa de Jânio Quadros em 1960. Também apoiou a deposição do presidente João Goulart e o golpe militar de 1964.
Diz o texto da FGV que contradições e cisões acompanharam a trajetória da UDN na política nacional. “Coexistiram na UDN teses liberais e autoritárias, progressistas e conservadoras. O partido que vota a favor do monopólio estatal do petróleo (1953) e contra a cassação dos mandatos dos parlamentares comunistas (1947) é o mesmo que se opõe à intervenção do Estado na economia, denuncia a infiltração comunista na vida pública e contesta os resultados quando perde as eleições. O partido ficou marcado pela vinculação com os militares e as aspirações das camadas médias urbanas”, sustenta documento da FGV.
Na Paraíba, o maior expoente da UDN chamava-se Argemiro de Figueiredo. O Adversário dele era José Américo de Almeida, do PSD, que perdeu o controle da legenda e criou o PL. Argemiro foi governador da Paraíba entre 1935 e 1940 do século XX. Foi eleito indiretamente pela Assembleia Legislativa da Paraíba pelo Partido Progressista da Paraíba (PPP), com o respaldo dos grupos econômicos mais poderosos do Estado. No ano de 1937, com o golpe do Estado Novo, Getúlio Vargas se consolidou na Presidência e o manteve no cargo como interventor até 1940.
Em 1947, Argemiro foi deputado federal constituinte, eleito em 1945 pela UDN. Ele saiu das urnas em 1945 com 13.989 votos. Foi o mais votado da Paraíba. Foram 10,11% dos votos do Estado, segundo o TRE-PB (Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba). Somente em Campina Grande ele obteve 6.020, o equivalente a 40,34% dos votos do município. Argemiro se considerava dono do eleitorado campinense. Em João Pessoa, ele tirou apenas 476 votos.
Ainda em 1945, o presidente eleito foi Eurico Gaspar Dutra (PSD). Ele derrotou, no plano nacional, o brigadeiro Eduardo Gomes (UDN). Mas na Paraíba ocorreu o contrário: Eduardo Gomes ficou em primeiro lugar, com 76.110 votos, o equivalente a 53,25% do eleitorado paraibano. Dutra ficou em segundo, com 61.090 (42,74%).
Mas a longevidade da UDN, do PSD, do PTB e dos demais partidos não foi longe. Em 1964, houve o golpe militar. No ano seguinte, o Ato Institucional nº 2, de 27 de outubro de 1965, extinguiu todos os partidos e permitiu apenas dois. O Brasil entrava na era do bipartidarismo. De um lado, apoiando o Governo, estava a Arena (Aliança Renovadora Nacional).
Do outro, estava a oposição consentida pelos militares: Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A Arena recebeu a grande maioria dos udenistas. Já o MDB recebeu os políticos dos outros partidos, inclusive os de esquerda que estavam na clandestinidade, numa grande frente que denunciava o que consideravam de atrocidades do governo.
Com o retorno do bipartidarismo, durante o regime militar, a Arena emplacou todos os governadores até 1978, quando aconteceu a última eleição indireta pelo chamado colégio eleitoral. Na época, o eleito foi pela Paraíba foi o professor Tarcísio de Miranda Burity, então filiado à Arena. Ele derrotou Antônio Mariz, também da Arena. Entre 1979 e 1980, começaram as articulações pela volta do pluripartidarismo. A partir de 1980, começaram a surgir alguns dos partidos que estão em cena até hoje.
Arena se transformou em PDS (Partido Democrático Social), que virou PFL (Partido da Frente Liberal) e, posteriormente, subdividiu-se em PP (Partido Progressista) e Democratas (DEM). O MDB virou PMDB e voltou a ser MDB de algum tempo para cá. Na época, início da década de 1980, o pluripartidarismo voltou: Além dos herdeiros da Arena e MDB, surgiram PT, PL e PDT, Partido Popular, que emergiu do MDB e voltou para a mesma legenda. Depois, com um racha no MDB, surgiu o PSDB. Surgido na clandestinidade em 1962, o PC do B se legalizou no início dos anos 1980. O mesmo aconteceu com o PCB, etc.
Com a possibilidade de retorno da UDN, articulada pelo presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, é possível que, na Paraíba, a nova legenda não tenha dificuldades de recebeu adeptos e filiados, inclusive herdeiros políticos e familiares de Argemiro de Figueiredo, da família Sátyro, e de outros grupos familiares que estiveram do mesmo lado quando o partido comandou a política da Paraíba em períodos do século XX.
Além do mais, a experiência com um partido pequeno e inexpressivo como o PSL, já tem precedentes na Paraíba. Basta lembrar que, em 1989, quando o hoje senador Fernando Collor de Mello surgiu no cenário político nacional como “caçador de marajás” e foi eleito presidente da República, ele também de valeu de um partido criado para a finalidade de elegê-lo. Alegava Collor na época que não queria comprometimento com as oligarquias que comandavam os grandes partidos.
Mas o PRN (Partido da Reconstrução Nacional) não deu certo e Collor teve que negociar com as oligarquias, muitas das quais infestadas dos marajás que ele dizia que estariam na mira dele. Não conseguiu, se envolveu em escândalos e sofreu processo de impeachment.
O mesmo aconteceu com o PT, que resistiu até certo ponto e quando conseguiu chegar ao poder, esqueceu um passado de lutas em defesa das classes menos favorecidas e fez alianças com agrupamentos políticos e oligarcas dos mais conservadores que existiam no país: Sarney (Maranhão), Ferreira Gomes (Ceará), Miranda Burity, Mariz/Maia e Maranhão (Paraíba), Alves e Maia (Rio Grande do Norte), Coelho (Pernambuco) e por aí vai.
Anderson Fernandes
PB Agora