Segundo uma nova pesquisa médica, pessoas com depressão têm níveis sanguíneos baixos de uma molécula chamada acetil-L-carnitina.
Inclusive, os indivíduos com sintomas particularmente graves da doença, resistentes aos tratamentos ou que desenvolveram a condição ainda na infância são os que apresentaram os níveis mais baixos.
Agora que os pesquisadores encontraram essa ligação, o próximo passo é testar se suplementos de acetil-L-carnitina podem ajudar a curar a depressão nesses pacientes.
A correlação
Naturalmente produzida pelo organismo, a acetil-L-carnitina desempenha um papel crucial no metabolismo da gordura e na produção de energia. Não é uma substância esotérica: é amplamente disponível como suplemento dietético.
Nos últimos anos, cada vez mais evidências têm aparecido apontando para uma clara correlação entre depressão e níveis notavelmente baixos de acetil-L-carnitina.
Recentemente, uma equipe – que incluiu pesquisadores de diversas instituições, como a Universidade Rockefeller (EUA), a Universidade de Duke (EUA) e o Instituto Karolinska (Suécia) – conduziu um experimento com roedores que concluiu que a acetil-L-carnitina tinha um efeito antidepressivo de ação rápida nos animais.
Em humanos
A equipe também realizou um estudo com pacientes humanos para ver se há bases para fazermos um teste semelhante em pessoas. Os cientistas recrutaram 71 pacientes com diagnóstico de depressão, homens e mulheres com idades entre 20 e 70 anos. Também recrutaram 45 pessoas saudáveis como grupo de controle.
Os pacientes tiveram que preencher um questionário detalhado, passar por uma avaliação clínica, compartilhar histórico médico e fazer um exame de sangue. Dos pacientes com depressão, 28 tinham sintomas moderados e 43 tinham sintomas graves no momento do estudo.
Quando comparados ao grupo de controle pareado por idade e sexo, os pacientes com depressão tinham níveis substancialmente mais baixos de acetil-L-carnitina.
Os com depressão grave tinham os menores níveis, incluindo pacientes cuja condição resistiu a medicamentos antidepressivos, pacientes com depressão de início precoce e pacientes que sofreram abuso, negligência, pobreza ou violência na infância. Segundo os pesquisadores, esses pacientes constituem cerca de 25% a 30% de todas as pessoas que sofrem de depressão e são os que mais precisam de ajuda
No futuro
O objetivo da pesquisa agora é testar se suplementos de acetil-L-carnitina podem melhorar a depressão em pacientes humanos, como fizeram com os ratos.
Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Os pesquisadores não sabem o motivo da correlação da molécula com a doença, ou o efeito que ela tem na condição. O estudo com ratos sugeriu que a acetil-L-carnitina desempenha um papel no cérebro, impedindo o disparo excessivo de neurônios excitatórios, mas essa função precisará ser mais explorada.
Conforme explica Natalie Rasgon, psiquiatra e pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford (EUA), embora a pesquisa tenha identificado um importante biomarcador do transtorno depressivo, diversas perguntas precisam ser respondidas antes de os cientistas poderem recomendar um tratamento. Por exemplo, qual é a dose, frequência e duração adequadas para a suplementação com essa substância?
“Este é o primeiro passo para desenvolver esse conhecimento, que exigirá ensaios clínicos de grande escala e cuidadosamente controlados”, resumiu Rasgon.
As descobertas da pesquisa foram publicadas na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences. [ScienceAlert]