Você já deve ter ouvido em algum lugar que café faz mal. Nos debates cotidianos, esse hábito tem sofrido ataques, é verdade, gerando certo medo de que não seja saudável.
Na realidade, contudo, as análises científicas em grande escala dos danos ou benefícios do café têm praticamente mostrado vantagens definitivas da bebida, ou pelo menos nenhum efeito negativo.
Agora, mais um desses grandes estudos, realizado por pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e da Universidade Northwestern, concluiu que bebedores de café são mais saudáveis. Entre os 502.641 participantes – todos moradores do Reino Unido, tanto homens quanto mulheres com 38 a 73 anos -, quanto mais café uma pessoa bebia, menos provável era de morrer.
Em números
Os participantes foram agrupados em quantas xícaras de café bebiam por dia (menos de uma; uma; duas a três; quatro a cinco; seis a sete; oito ou mais).
As diferenças de mortalidade entre os grupos não eram gigantes, mas eram expressivas. Os pesquisadores usaram uma taxa de risco para medir o efeito de uma variável como o consumo de café na probabilidade de morte. Por exemplo, uma taxa de risco “1” significaria que não há diferença no número de mortes entre os grupos, enquanto uma taxa de 0,5 significaria que houve o dobro de mortes no grupo que não bebe café.
Neste estudo, as taxas de risco geralmente diminuíam à medida que o número de xícaras consumidas aumentava, indicando que quanto mais café as pessoas bebiam, menor era a probabilidade de elas morrerem durante um determinado período. Em ordem, as razões de risco foram 0,94, 0,92, 0,88, 0,88, 0,84 e 0,86. Todas, exceto a primeira, são consideradas estatisticamente significativas, o que significa que devem ser mais do que um acaso.
Esses achados estão alinhados com o que outros estudos de larga escala descobriram, como este europeu feito em 2017 com 521.330 pessoas, este americano feito em 2012 envolvendo 5.148.760 pessoas, e este americano feito em 2017 com foco em populações não caucasianas.
Dúvidas, cautela e controle de outros fatores
Estudos como esse são observacionais. Isso significa que não foi possível designar grupos de participantes para beber determinadas quantidades de café por dia e, em seguida, garantir que suas vidas fossem idênticas em todos os outros aspectos.
Justamente por isso, estudos observacionais não podem fornecer uma ligação causal, ou seja, não podem determinar se é o café que leva a melhor saúde. Na impossibilidade de estudos controlados, no entanto, os observacionais se tornam as melhores ferramentas que temos para analisar questões e levantar hipóteses, especialmente quando envolvem quantidades grandes de participantes.
Beber café pode estar associado a muitos outros hábitos que influenciam a saúde, ou talvez não beber café esteja associado a alguma coisa. Por exemplo, pessoas que têm doenças sérias, como o câncer, podem não tomar café, mas essas pessoas também têm maior probabilidade de morrer – o que aumentaria artificialmente a mortalidade do grupo que não toma café.
Os pesquisadores deste estudo procuraram ver quais outras características estavam associadas a beber ou não café, como tabagismo, peso corporal, status socioeconômico e assim por diante, a fim de tentar controlar esses fatores para evitar que eles interferissem nos resultados.
Os bebedores de café tendiam a ser homens e brancos, por exemplo, bebiam mais álcool e eram ex-fumantes. O consumo particularmente alto de café foi correlacionado com ser fumante. Beber entre uma e três xícaras correlacionou-se com ter um diploma universitário e ser mais velho, além de relatar saúde “excelente”.
Fator genético e cafeína
Um diferencial deste estudo é que ele levou em conta variações genéticas no metabolismo da cafeína. Um trabalho relativamente recente estabeleceu certas mutações que fazem uma pessoa reagir à cafeína de diferentes maneiras.
Os cientistas usaram um grande banco de dados contendo informações genéticas sobre os participantes para testar se certas variantes se correlacionavam com melhores ou piores resultados de saúde. Mas, mesmo observando 400 mil pessoas para as quais dados genéticos estavam disponíveis, os pesquisadores não encontraram diferenças nos resultados entre aqueles cujos genes os predispunham à sensibilidade à cafeína e àqueles que não.
Além disso, este estudo, como outros, descobriu que o teor de cafeína não fazia diferença no risco de morte. Até mesmo cafés descafeinados e instantâneos pareciam funcionar, embora os pesquisadores tenham observado que as associações de saúde para café moído com cafeína eram “geralmente mais fortes”.
Em outras palavras, eles não têm certeza de qual componente do café parece melhorar nossa saúde, mas não é a cafeína. Talvez sejam os compostos ricos em antioxidantes, ou compostos que reduzem a inflamação e a resistência à insulina, como lignanas, quininas e magnésio.
Em resumo
Naturalmente, os resultados deste estudo (como outros do tipo) não significam que o café não é uma substância viciante, ou que as pessoas grávidas deveriam tomar bastante.
A cafeína é um estimulante cuja sobrecarga no metabolismo pode causar dores de cabeça, irritabilidade, inquietação, batimentos cardíacos acelerados e tremores musculares. Além disso, pode privar o sono. A Mayo Clinic recomenda limitar-se a cerca de 400 miligramas por dia por esse motivo.
Também não significa que você pode colocar muito açúcar e outros ingredientes na bebida sem ter efeitos negativos sobre a saúde, como obesidade ou doenças cardíacas.
Mas significa que você pode beber seu café em paz e com moderação, para curtir sua vida mais longa. [POPSCI]