Uma pesquisa feita nos EUA por pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF) descobriu que boa parte das mulheres com câncer de mama não metastático naquele país não estão recebendo as imagens de acompanhamento da doença de maneira correta. Algumas pacientes estão ficando sem as mamografias anuais recomendadas pelos especialistas, enquanto outras com o mesmo diagnóstico de câncer recebem exames de corpo inteiro que não são recomendados por especialistas e as expõem a quantidades significativas de radiação.
Estamos causando câncer em nós mesmos?
Os pesquisadores disseram que não encontraram nenhum padrão nos dados para explicar a variação no atendimento, mas suspeitam que isso aconteça em função das diferenças nas práticas comuns adotadas por determinados hospitais ou grupos de médicos. Além do risco da radiação, tomografias desnecessárias também têm um alto custo. Nos EUA, exames de corpo inteiro custam entre 2.000 e 8.000 dólares.
“Com o aumento vertiginoso dos custos médicos, os pacientes estão tendo que assumir uma responsabilidade cada vez maior pelas despesas extras. Esses pacientes já têm câncer, então você não quer induzir outro câncer com radiação de imagens desnecessárias”, argumenta Benjamin Franc, médico da UCSF, em matéria publicada no site da instituição.
Preocupação
Não há nenhum estudo que mostre o número de tomografias ou outros exames de corpo inteiro em casos assim no Brasil, mas um artigo publicado no site do Inca mostra a preocupação com a relação entre exames do tipo e a radiação.
“O Brasil possui menos de 1/3 dos equipamentos de tomografia computadorizada (TC) encontrados nos EUA, e sua produção anual de exames é muito inferior (cerca de 3 milhões de exames no SUS em 2012). Entretanto, alguns fatores podem fazer com que a produção de exames aumente exponencialmente no Brasil: maior oferta do exame nos últimos anos tanto no SUS como na Saúde Suplementar, melhoria do poder aquisitivo da população, envelhecimento da população e baixo acesso às informações sobre benefícios e riscos do exame. Os sistemas de saúde são complexos e qualquer mudança em alguma variável (como o aumento da oferta de exames de TC) pode acarretar desequilíbrios e provocar eventos adversos”, alerta no artigo Ronaldo Corrêa Ferreira, oncologista do Inca. “Em contextos de aumento da oferta de TC, devemos reduzir ao mínimo a realização de exames desnecessários”.
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O estudo americano examinou dados de 36.045 mulheres entre 18 e 64 anos que fizeram cirurgia para câncer em um seio entre 2010 e 2012. Para limitar o grupo a pacientes com doença não metastática, os pesquisadores excluíram as mulheres que receberam quimioterapia nos primeiros 18 meses após a cirurgia. Diretrizes dos órgãos de saúde americanos recomendam que mulheres com câncer de mama não metastático devem receber exames físicos anuais e mamografias, mas não imagens de corpo inteiro com tecnologias como tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (MRI), tomografia por emissão de pósitrons (PET) ou exames de osso.
Segundo o texto publicado no site da universidade, os pesquisadores analisaram um período de 18 meses, em vez de um ano, para dar tempo das pacientes completarem qualquer terapia de radiação. Eles descobriram que as pacientes eram mais propensas a receber imagens de mama recomendadas dentro de 18 meses da cirurgia se fossem mais jovens ou caso tivessem feito radioterapia.
Eles descobriram que 70,8% das mulheres receberam pelo menos uma imagem de mama dedicada, uma mamografia ou uma ressonância magnética de mama, todos exames recomendados para essas pacientes. Mas 31,7% tinham pelo menos um procedimento de imagem de alto custo, e 12,5% tinham pelo menos um PET. Nenhum destes exames é recomendado sem um sintoma clínico específico.
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O estudo também descobriu que somente cerca de metade das pacientes de risco mais baixo, que fizeram apenas cirurgia, receberam a mamografia recomendada dentro de 18 meses após o tratamento inicial. Entre aquelas que possuíam maior risco e fizeram a mastectomia e receberam doses de radiação, entre 64 e 70% receberam algum tipo de imagem de mama, seja mamografia ou ressonância magnética de mama. Mas, dependendo de onde viviam, entre 18 e 46% das pacientes recebiam imagens tomográficas de alto custo dentro de 18 meses depois de suas cirurgias.
“A idade e o tratamento fazem sentido como preditores de imagens de mama, mas não faz sentido que onde você mora faça diferença (no fato de) você ser propenso a fazer uma mamografia de acompanhamento ou imagens de alto custo”, diz Franc. “O que é contestável é que temos essas diretrizes, mas os médicos não as seguem”, protesta. [Universidade da Califórnia, Science Daily, Inca]
Fonte: Hypescience