A tuberculose é uma doença infectocontagiosa muito antiga, que afeta prioritariamente os pulmões, mas pode atingir outros órgãos ou sistemas do corpo humano Embora seja uma doença passível de ser prevenida, tratada e curada, a tuberculose ainda mata mais de 4 mil pessoas todos os anos no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.
Há um ano e meio, o Laboratório de Análises Clínicas (LAC), vinculado ao Departamento de Farmácia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), vem realizando exames de baciloscopia e cultura tuberculínica gratuitos, destinados às pessoas com suspeita da doença. O Laboratório para Diagnóstico de Tuberculose funciona no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), no Câmpus de Bodocongó, em Campina Grande, e vem se tornando referência no diagnóstico da doença.
A UEPB é a primeira Instituição pública de ensino superior na Paraíba a ofertar esse serviço. A iniciativa é fruto do projeto de extensão “Diagnóstico da Tuberculose”, coordenado pela professora do curso de Farmácia, Maricelma Ribeiro Morais. Para realizar o serviço e atuar no combate a doença, o Laboratório firmou parceria com a Secretaria de Saúde da Paraíba por meio do Laboratório Central de Saúde Pública da Paraíba (Lacen-PB), e com o Serviço Municipal de Saúde de Campina Grande.
Qualquer paciente que apresentar os sintomas da tuberculose, como tosse forte, febre persistente por mais de três semanas ou emagrecimento rápido sem causa aparente pode se apresentar no LAC e fazer a baciloscopia. A ideia inicial era que os pacientes atendidos em unidades de saúde do município solicitassem um encaminhamento pelo médico ou enfermeiro que o atendeu, para realizar o teste no LAC. No entanto, a demanda vinda das unidades de saúde ainda é pequena e, desde que o laboratório entrou em funcionamento, a maioria das pessoas procurou o serviço de forma espontânea, algumas delas desconhecendo a gravidade da bactéria que causa a infecção crônica e progressiva.
Nos três primeiros meses, o Laboratório funcionou de forma experimental, mas, posteriormente, começou a atender os pacientes que necessitam do diagnóstico. Atualmente, em média, são realizados 20 testes por semana, a maioria com pessoas idosas. Muitos desses pacientes foram encaminhados pela Secretaria Municipal de Saúde, que não deu conta da demanda e recorreu ao laboratório da UEPB. A incidência da doença é alta, o que preocupa a equipe do LAC. A maioria dos mais dos testes realizados deu positivo. Alguns pacientes chegaram ao Laboratório com a doença bastante avançada.
O atendimento no LAC é realizado de segunda a sexta-feira, das 7h às 13h. O setor funciona no Complexo Integrado de Pesquisa Três Marias, no Câmpus de Bodocongó, em Campina Grande. O contato com a unidade pode ser feito previamente, pelo telefone (83) 3315-3487.
Diagnóstico em até 30 minutos
Dentro do Laboratório para Diagnóstico de Tuberculose, de portas fechadas e com a equipe devidamente protegida, é feita a baciloscopia. São processadas duas amostras por pessoa em cada teste. Inicialmente, a equipe recomenda ao paciente seguir as orientações corretas ao fazer a coleta, no primeiro escarro da manhã. O paciente faz essa coleta em sua residência e a coloca em um recipiente.
No LAC, a amostra é colocada sobre uma lâmina e elevada ao fogo por alguns minutos. Depois da lâmina aquecida, ela é corada e observada no microscópio. O diagnóstico é simples e o resultado pode sair em até 30 minutos. Quando o resultado é positivo, a equipe realiza a cultura, que é um exame mais demorado e serve para atestar a resistência da bactéria ao antibiótico utilizado no tratamento. A cultura começa no LAC, mas é concluída no Laboratório Central de Saúde Pública da Paraíba (Lacen-PB), com resultado emitido em 60 dias.
A meta da equipe da UEPB é adquirir o aparelho para teste rápido de cultura em duas horas, visto que o exame demora dois meses para emitir o resultado e, quanto antes o tratamento for iniciado, maiores são as chances de cura. Nos casos positivos, a equipe do LAC encaminha imediatamente o paciente para as unidades de saúde habilitadas a iniciar o tratamento. Em Campina Grande, o tratamento é realizado pelo Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC) e pelo Serviço Municipal de Saúde. A professora Maricelma Ribeiro ressalta que, apesar de ser uma doença muito antiga, muitas pessoas ainda desconhecem os sintomas da tuberculose e, por isso, não procuram os serviços especializados para realizar o diagnóstico.
“Nós já recebemos pacientes que vieram porque o médico encaminhou, mas ele não tem noção da doença e continua trabalhando”, observa a docente. Alguns pacientes chegam a fazer o teste, mas não retornam para buscar o resultado, que é entre 24 horas e 48 horas após o recebimento da coleta. Outra preocupação da equipe é que muitos pacientes, mesmo em tratamento, continuam com o diagnóstico dando resultado positivo, o que aponta para uma possível resistência da bactéria. A suspeita é que eles abandonaram o tratamento ao notarem os primeiros sinais de desaparecimento da tosse, o que é um erro.
Professora Maricelma enfatiza que a doença é curável, visto que existem antibióticos capazes de erradicar a bactéria, mas o maior problema do tratamento são os efeitos colaterais, que levam os pacientes a abandoná-lo antes de sua conclusão. A tuberculose, conforme explica a professora, surge a partir do contato com outra pessoa infectada, sendo transmitida a partir da tosse. O mais preocupante é que o bacilo sobrevive no ar durante muitas horas, podendo contaminar várias pessoas ao mesmo tempo. O tratamento, feito a base de antibiótico, é ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e dura em média seis meses.
Pacientes do presídio
Uma das propostas do projeto “Diagnóstico da Tuberculose” é realizar o diagnóstico com os pacientes do Presídio do Serrotão, onde o índice de tuberculose é preocupante. Para isso acontecer, a equipe do LAC já realizou um treinamento com os profissionais do Lacen. O projeto de extensão também está servindo como campo de estágio para os alunos de Farmácia da UEPB. A equipe coordenada professora Maricelma Ribeiro é composta pelos alunos bolsistas Walisson de Medeiros e Pedro de Araújo Neto, além do aluno voluntário, Pedro Souto Maior.
Walisson de Medeiros está no 3º período e entrou no projeto há seis meses. Ele diz que a experiência tem sido nova e enriquecedora em sua formação profissional. Walisson conta que jamais imaginava trabalhar na área de Análises Clínicas, já que pensava em trabalhar na indústria ou até mesmo em farmácias, mas está gostando da atividade. “Graças a esse projeto estou vendo como é amplo o curso de Farmácia”, salienta.
Instalado dentro do LAC, o Laboratório para Diagnóstico de Tuberculose é de médio porte e conta com equipamentos como bico de Bunsen (um dispositivo usado para efetuar aquecimento de soluções em laboratório), estufa para incubação bacteriológica e geladeiras. Para realizar o diagnóstico, a equipe se cerca de todos os cuidados, devido o risco de contaminação, como o uso obrigatório de máscaras específicas, luvas e óculos.
Texto: Severino Lopes