A palavra “gênese” pode ser definida como “um conjunto dos fatos ou elementos que concorrem para a formação de alguma coisa”. No caso da carreira futebolística de Priscilla Dantas, esse ponto de partida foi vivenciado ainda na Infância, quando, influenciada pelo pai e pelo irmão, ela sentiu-se atraída e começou a jogar futsal em quadras da capital paraibana.
“Meus primeiros anos foram jogando misturada com o masculino nas escolas que estudei na minha cidade, em João Pessoa. A partir dos 12 anos, com o treinador Guilherme Paiva, fiz parte da equipe de futsal feminina, sendo várias vezes campeã paraibana, escolar e disputando campeonatos brasileiros (HBE,AABB e Botafogo-PB)”, relembra ela.
Hoje, aos 23 anos de idade, ela já acumula diversas experiencias em grandes clubes fora do Brasil. Desde o ano passado, a paraibana defende as cores do Neom sports Club, que, no momento. lidera a tabela da Segunda Divisão da Arábia Saudita. A carreira consolidada, no entanto, não for um mero acaso, mas decorre dos esforços empregados pela jogadora desde cedo.
”Com 15 anos, cheguei na Europa.Passei pelo CD Hispalis, Ciudad Alcalá, Sevilla FC, Real Betis Balompié e finalizando na União Deportiva Almenia. Meu objetivo era conseguir jogar em grandes clubes e assim considero por onde passei. em um grande desafio, cresci e aprendi muito na Espanha”.
Esporte sem verdades absolutas
Mesmo sendo uma só modalidade esportiva, o futebol dá abertura para diferentes estilos de jogo mundo afora. A atleta elenca as peculiaridades de cada lugar pelo qual passou ao longo de sua trajetoria.
“Para mim, as principais diferenças, dentro de campo, são os treinamentos, a metodologia, a preparação, os jogos e as características das jogadoras. No futebol brasileiro, se destaca mais o individual que o coletvo, mais técnica do que tática. A ideia das equipes, normalmente, é ofensiva, assumindo muitos riscos. Os campeonatos são equilibrados, dificeis e disputados. As jogadoras são mais habilidosas, fortes e rápidas, ousadas, essência do Brasil. No espanhol, trabalhamos muito fisicamente e os conceitos táticos. Se destaca o nível coletivo da equipe, mais que o nivel individual. A ideia de jogo e mais controlada, evitando riscos e realizando as jogadas planificadas e, sobretudo. o conhecimento dos treinadores, seus ensinamentos e cobranças com respeito ao que foi trabalhado, intensidade e disciplina”, avalia.
“Ainda está sendo o ‘começo’ do futebol feminino aqui [na Arábia Saudita), mas nós, jogadoras estrangeiras, carregamos o maior peso, a maior responsabilidade pela equipe, sendo o destaque. As jogadoras sauditas, a maioria teve o seu primeiro contato com a bola após os seus 20 anos. Nos treinamentos, trabalhamos conceitos e fundamentos sobre técnica e tática básicos para que se desenvolvam.
Na primeira Divisão, observamos um desequilíbrio entre o nível das equipes. Acima de nos, está a Premier League. Estamos em primeiro lugar, em busca do acesso à Premier. Somos espelhos para elas, referência. É importante passar o melhor de nós, para que elas continuem evoluindo”, acrescenta Priscilla.
Vivência sociocultural
Não é somente um novo país, um novo idioma ou uma nova gastronomia. É impossível viver na Arábia Saudita sem notar ou ser influenciada pela cultura, que possui algumas particularidades em relação aquela da terra natal de Priscilla.
“A diferença é um desafio. Para mim, o bom disso tudo e aprender a se adaptar me leva ao crescimento e me enriquece como pessoa e jogadora. Nós, de fora, tentamos respeitar a sociedade e regras impostas por eles, mas é verdade que muitas situações normais, para nós, não são certas para a cultura e religião deles. diz.
“Realmente, impressiona a rigidez da religião, sobre vestimenta, horário de oração etc. Por exemplo, as jogadoras sauditas não usam shorts e a maioria se cobre com véus. Outro exemplo: se, em horários de treinamentos ou jogos, houver orações paramos para que todos realizem, escutamos através dos megafones nas mesquitas da cidade, acrescenta a paraibana.
Próximos passos
A atleta deixa claro que está satisfeita com a nova fase da vida pessoal e esportiva, mas se sente motivada e sonha em alcançar patamares cada vez mais altos dentro das quatro linhas.
“Meu sonho de se tornar jogadora de futebol já foi realizado. Agora, para o futuro, pretendo continuar crescendo, chegar mais alto, viver realizações e grandes conquistas a base de trabalho. Ano passado, dei uma entrevista onde me perguntaram se o meu futuro estava na Espanha, e respondi: “Creio que sim”. confiava que meu futuro estava lá, por isso continuava a persistir”, pontua.
“Hoje, sou muito feliz aqui, na Arábia. Minha primeira temporada em um novo país, nova cultura, novo clube, novas pessoas, novos desafios e conquistas. Pretendo que parte da minha história seja aqui também Meu futuro é o futebol, ele me guia. Mas, sim, gostaria de encerrar a carreira em clubes brasileiros, perto da familia”. afirma ela.
Sonho comum a maioria dos futebolistas, a Seleção Brasileira também está no radar da paraibana. “Sim, sempre sonhei com isso. Representar e carregar a bandeira do meu país seria um tremendo orgulho. Continuarei trabalhando e ilusionada, quem sabe a oportunidade chegue”, elucida Priscilla.
Fonte: A União